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nov 13 2023

Fauvismo e Arte Naif | Guia Isso é Arte [2]

Guia de leitura do livro "Isso é arte?"Esse é o segundo post-guia de leitura do livro do Will Gompertz – “Isso é arte”. Vamos falar de Fauvismo e Arte Naif.

A ideia é colocar as obras citadas a cada capítulo e também dar pistas para ampliar um pouco as discussões sobre cada artista, movimento ou escola.

Para participar do nosso clube de leitura desse livro, veja nossa playlist no YouTube, clicando aqui. E também veja as próximas datas dos próximos encontros, clicando aqui.

Mas queria que esse post fosse colaborativo. Sei que o pessoal já não comenta muito nos sites, mas desejar é grátis, né ? Assim se você tiver links para materiais ou livros, por favor, coloque sua contribuição nos comentários!

Para acessar o primeiro post-guia dos Capítulos 1 a 5, clique aqui.

Capítulo 6 – Primitivismo? Fauvismo? Arte Naif?

Gompertz começa falando do primitivismo. Ao meu entender é um pouco confuso a forma que utiliza esse termo no começo do capítulo. A impressão que tenho é que ele mistura muitas vezes a incidência do primitivismo na arte moderna e outra corrente artística conhecida como simbolismo.

Mas o que é o simbolismo?

Esse termo surge na literatura. Em 1886 o crítico francês Jean Moréas em “Um manifesto literário” define a poesia de Mallarmé e Verlaine como simbolistas. E explica o novo estilo como “inimigo da declamação, da falsa sensibilidade e da descrição objetiva”.

Dentro da artes visuais é muito amplo e por isso meio complicado defini-lo de forma sucinta já que terá características diferentes em cada país. A grosso modo, os artistas simbolistas buscavam o onírico e queriam expressar através de imagens carregadas de simbologia, suas ideias, emoções e estados de ânimo.

Na França, os grandes nomes do movimento foram: Gustave Moreau, Odilon Redon e Paul Gauguin. Na Bélgica: Fernand Khnopff e Jean Deville. Na Inglaterra: Dante Gabriel Rossetti, Edward Burne-Jones, Frederic Watts e Aubrey Beardsley.
Fauvismo e Arte Naif

Do simbolismo a Klimt

O simbolismo vai gerar muitos movimentos que vão impactar diretamente em nosso dia a dia, porque vão voltar nossos olhos para os objetos que trazem a beleza da arte para o nosso cotidiano.

O pai dessa onda será o Arts & Crafts, que surge na Inglaterra pelas mãos de William Morris e dos pré-rafaelitas. E vai ter nomes e nuances diferentes nos demais países europeus. Na França e na Bélgica será Art nouveau; na Espanha, modernismo; na Alemanha, Jugendstil; na Itália Lo Stile Liberty ou Stile Floreale; em Portugal, arte nova.

Na Austria, o movimento se conhecerá como Secessão e dele formará parte Klimt.

Gustav Klimt (1862 – 1918)

Fauvismo e Arte Naif

Já falei sobre essa obra pintada entre 1907 e 1908 por Klimt, nesse vídeo: https://youtu.be/ryr0awZ3C_A

Secessão

Em Viena havia uma associação de artistas conhecida como “Casa dos Artistas” (Vienna Künstlerhaus) que realizava exposições com obras de seus membros, previamente selecionadas por um jurado.

Em 1895, o jurado rejeitou obras de Theodor von Hoermann (e olha que o cara era paisagista!) e de Josef Engelhart. Os membros mais jovens protestaram por essa resolução.

No ano seguinte, um pintor bem acadêmico ganhou a eleição da “casa”. Daí não teve mais jeito, por volta de 40 membros abandonaram a “Casa dos Artistas” e criaram sua própria associação, quando nasce a Secessão.

Entre os membros se encontravam Klimt, que foi o primeiro presidente, Karl Moll, Koloman Moser e Alfred Roller.

No dia 15 de março de 1898 realizaram sua primeira exposição. Na segunda se expôs a “Palas Atenea”, de Klimt, um dos símbolos do grupo, que realizou ao todo 15 exposições até 1905.
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o império da cor

O relato com que Gompertz vai tentando alinhar o discurso desse capítulo é o da influência de uma “Arte nativa” entre esses artistas, que já estavam dispostos a abandonar o academicismo.

E por isso sai de Viena e retorna a Paris, onde encontra aquele que teria sido o primeiro a celebrar a beleza e pureza de formas das máscaras africanas: Maurice de Vlaminck (1876 – 1958).

Maurice Vlaminck

Fauvismo e Arte NaifVlaminck pensou que ia ser ciclista profissional, mas sofreu a febre tifoide e abandonou seu plano original. Em seguida, entrou para o exército onde conheceu e ficou amigo do pintor André Derain. É quando decide se dedicar à pintura. Ele já havia pintado anteriormente, de forma autodidata.

Gompertz conta que ele foi quem viu algumas máscaras africanas num bar e impactado decidiu levá-las para seus amigos. Além de Derain, o trio daquele momento também incluía Matisse.

Eles que já curtiam Van Gogh e Gauguin, quando viram aquelas máscaras que mostravam uma beleza que não era idealizada, ao contrário emanavam uma liberdade, que a arte ocidental tinha perdido. Para eles, foi um caminho sem volta que concluiu com uma viagem de Derain e Matisse ao sul da França.

“O Restaurante da Machine em Bougival” de Maurice Vlaminck

Esse quadro foi pintado em 1905. Atualmente se encontra no Museu d´Orsay (Paris).
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Matisse e Derain em Collioure

Mas no que pode influir uma viagem numa forma de pintar? TUDO. Derain e Matisse foram passar o verão para o sul da França, Collioure. A luz era outra, acentuada, vibrante. Foi o que faltava para que eles, sem a menor intenção, desenvolvessem uma forma de pintar que ficará conhecida como FAUVISMO.

“Seus quadros eram emocionalmente desinibidos e tremendamente coloristas. Transmitiam de forma estrondosa a mensagem de que o mundo era um lugar maravilhoso” (p. 120).

André Derain – “Barcos no Porto de Collioure”

Esse quadro André Derain pintou na viagem com Matisse em 1905. Atualmente se encontra na Royal Academy of Arts (Londres).
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Alguns pontos interessantes:
– cores saturadas e brilhantes;
– trabalha com contrastes de caráter simultâneo, o que significa que os valores da cor mudam em função das cores que estejam próximas dela. Por exemplo, os amarelos são mais brilhantes quando estão juntos ao azul do que do vermelho;
– as sombras são coloridas, como no impressionismo, mas os contrastes são violentos;
– abre mão da perspectiva geométrica;
– prescinde das cores naturais e do realismo;
– não quer mostrar o porto, mas sua atmosfera, como o sentia naquele verão de 1905.

“Usavam a cor como um poeta usa as palavras, para revelar a essência do tema”.

Matisse em Collioure”

* “Landscape at Collioure” (1905) | MOMA (New York)
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* “View of Collioure” (1905) | Hermitage (St. Petersburg)
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Como surgiu o fauvismo? – Salão de Outono de Paris

Em 1903, cria-se o Salão de Outono de Paris, uma nova forma de se opor ao conservador e fechado salão oficial da Academia. Os 3 amigos felizes com seus quadros de cores brilhantes resolvem apresentá-los na edição de 1905 desse novo salão, ou seja, logo após a volta de Matisse e Derain de Collioure.

A princípio o jurado sequer estava muito propenso a aceitá-los, mas Matisse já era influente nessa época e conseguiu que fossem aceitos e que estivessem todos reunidos numa mesma sala. O crítico conservador Louis Vauxcelles vociferou que as obras haviam sido criadas por fauves, que significa feras selvagens em francês. Daí fauvismo, outro nome pejorativo que acabou dando mais força a uma nova forma de pintar, tal qual passou com o impressionismo.

Fauvismo e Arte Naif
(imagem: Le Salon d’Automne, Les Fauve, journal L’Illustration, 4 November 1905, p. 295).

Gertrude e Leo Stein, os mecenas da vanguarda

Os irmãos Stein foram para Paris e sua casa se converteu antes da 1a. Guerra Mundial no local de encontro dos pintores mais vanguardas daquela Paris do início do século 20.

Eles possibilitaram que vários dos grandes nomes da arte moderna continuassem sua andadura ao comprar seus trabalhos mais revolucionários. Entre esses trabalhos, duas telas de Matisse: “Alegria de viver” (1905-1906) que atualmente se encontra na Filadélfia, na Barnes Foundation. E “Mulher com chapéu” (1905 – 1906), que pode ser vista Museu de Arte Moderna de São Francisco.
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Matisse e Derain

“Quando perguntaram a Matisse o que vestia sua esposa, ele respondeu: Claro que levava uma roupa preta!” (pp. 124/124).

Picasso – “Retrato de Gertrude Stein”

Picasso viu essas duas telas. E respondeu plasticamente ao retrato da esposa de Matisse com o retrato de Gertrude Stein. Atualmente essa obra se encontra no MET (New York).
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Will Gompertz compara as duas telas e afirma que Matisse é free jazz e Picasso, um concerto clássico. Você concorda?

Para saber mais sobre Gertrude Stein

Também vale a pena o livro, onde Gertrude Stein fala de Picasso.

Picasso – “As senhoritas de Avignon”

“O encontro de Picasso com a máscara provocou uma das mudanças mais profundas da história da arte” (p. 128).

Picasso e Henri Rosseau

O gênio das “Senhoritas de Avignon” era um excelente anfitrião. Promovia festas em sua casa. Em uma dessas festas prestou uma homenagem a Henri Rosseau.

Num belo dia, o malaguenho entrou numa loja em Paris e deu com uma tela que lhe enfeitiçou. Nem pensou duas vezes e a comprou por 5 francos. Era “Retrato de uma mulher”, pintada em 1895 por Henri Rosseau. Ele guardou esse quadro durante toda sua vida …
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“… me dominou com a força de uma obsessão (…). É um dos retratos com maior veracidade psicológica que se pintou em França” (Picasso).

Gompertz afirma que se Rousseau tivesse pintado essa tela em 1925, ao invés de 1895, ela teria sido considerada surrealista!

Atualmente essa pintura se encontra no Museu Picasso, de Paris.

Henri Rousseau e a arte naïf

Henri Rousseau era alfandegário em Paris. Em seus momentos livres começou a se dedicar a pintura e a tempo integral quando abandonou o trabalho. Ele é considerado o pai da arte naif.

Uma curiosidade: ele expôs sua tela “Leão esfomeado atacando a um antílope” no mesmo Salão de Outono de 1905, onde Matisse, Derain e Vlaminck foram chamados de “fauves”. Hoje essa tela se encontra na Suíça, na Fondation Beyeler.

Fauvismo e Arte Naif

Quando Rousseau morreu, Apollinaire escreveu seu epitáfio e Constantin Brancusi esculpiu os versos na pedra. Você não alucina, como tudo está interligado, com o fato que todos se conheciam?

O que é arte naïf

Naif em francês significa ingênuo, mas “seria ingênuo acreditar que essa pintura é ingênua” (Louis Aragón).

O que se pode dizer sem medo de errar, que essa forma de fazer arte resulta de uma mente autodidata, ou seja, onde o artista não tem formação acadêmica. Na maioria dos casos, o artista não se dedicava 100% à produção de obras, mas exercia em paralelo uma atividade profissional distinta e que lhe permitia continuar produzindo arte.

Portanto, a falta de técnicas mais elaboradas, em termos de processos, leva a uma arte mais simples em termos de execução e visão.

No Dicionário SESC: a linguagem da cultura, define-se o termo naif como uma “designação de origem francesa – literalmente, arte ingênua – para as pinturas e esculturas de técnica autodidata, livre, espontânea, rude e frequentemente popular”.

É um tema complexo, até porque vários prejuízos fizeram até bem pouco tempo que se dedicasse menor atenção a essa forma de produção artística tanto na crítica como na história especializada. Portanto recomendo, para quem estiver interessado os seguintes livros:

Séraphine Louis

Séraphine (1864 – 1942) foi um artista francesa considerada naïf, assim como Henri Rousseau. Há outros nomes importantes, mas quis incluir uma mulher artista para vocês 🙂

Brancusi: a modernidade da escultura

Brancusi (1876 – 1957) era romeno e quando chegou à Paris se colocou em contato com Rodin e os impressionistas. Também esteve com Picasso, Duchamp e companhia. Desculpe ser repetitiva, mas você consegue imaginar como era Paris nessa época?

Ele levou a escultura para a arte moderna e eu te explico isso de forma mais detalhada nesse vídeo …

Musa Dormindo, de Brancusi

Brancusi esculpiu essa obra entre 1909 e 1910. Atualmente se encontra no Smithsonian Institution, em Washington D.C. Também pode encontrar como “Musa Dormida”.
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O Beijo: Rodin x Brancusi

O Beijo de Rodin se encontra no Museu Rodin, em Paris. E o de Brancusi, no Hamburger Kunsthalle, em Hamburgo.
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Brancusi e Modigliani

Pouca gente imagina, mas Modigliani passou a esculpir quando conheceu Brancusi. Ele deixou aproximadamente 26 esculturas. Entre elas, “Cabeça”, realizada entre 1910 e 1912. Ela foi exibida no Salão de Outono de Paris em 1952.
Fauvismo e Arte Naif
Desde 1927 se encontrava junto à família do fundador da rede de supermercados francesa – Monoprix. Em 2010, a família decidiu vender através da Christie´s, alcançando a soma de 52 milhões de dólares!

E depois de Brancusi?

Giacometti

Em 1922, chega a Paris o suíço Alberto Giacometti (1901 – 1966). Ele vai conhecer as obras de Brancusi e se apaixonar por certas obras africanas, que eu te conto no vídeo abaixo, onde também aparece a obra citada no livro – Isso é arte!?.

Fauvismo e Arte NaifGompertz nos diz que essa necessidade de simplificar a forma, de voltar os olhos ao que se considerava primitivo, não era algo que apenas pulsava em Paris. Da Inglaterra ele trará 2 exemplos: Barbara Heptworth e Henry Moore.Fauvismo e Arte Naif

Para saber mais sobre Giacometti, vale a pena a leitura de um livro que a Ana do Instagram @historicalstudies me recomendou, clique aqui para conhecer esse livro.

Barbara Heptworth e Henry Moore

Barbara Heptworth (1902 – 1975) conheceu Henry Moore (1898 – 1986) na escola de arte e foram juntos para Paris, onde conheceram (está preparado?) Picasso e Brancusi 🙂

Gompertz cita as seguintes obras quando fala deles: “Forma perfurada” (1931) de Barbara. Essa obra foi destruída durante a Segunda Guerra Mundial, para saber mais sobre ela, clique aqui e assista o episódio 64 do Top100Arte.

O autor termina de uma forma que acredita que defina bem as obras e artistas tratados nesse capítulo 6:

“(…) o poder emocional das formas simples, ademais ancorava a esses artistas em uma narrativa tão antiga como o ser humano. Sua arte pertencia tanto ao passado quanto ao futuro” (p. 143).

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